Como viver da melhor maneira possível?
Esta pergunta é, para mim, muito mais substanciosa do que outras aparentemente maiores: “A vida tem sentido? Vale a pena viver? Há vida depois da morte?” Ouça, a vida tem sentido e sentido único, ela segue em frente, não tem retorno, as jogadas não se repetem e geralmente não podem ser corrigidas. Por isso é preciso refletir sobre o que queremos e atentar para o que fazemos. Depois... manter sempre o ânimo diante das falhas, porque a sorte também conta e nunca deixa alguém acertar em todas as ocasiões.
O sentido da vida?
Primeiro, procurar não falhar; depois, procurar falhar sem desfalecer. Quanto a saber se vale a pena viver, remeto-o ao que dizia a esse respeito Samuel Butler, um escritor inglês, frequentemente brincalhão: “Essa é uma pergunta para um embrião, não para um homem.” Qualquer que seja o critério que você escolha para julgar se a vida vale a pena, ele deverá ser extraído da própria vida em que você está mergulhado. Mesmo ao rejeitar a vida, você o fará em nome de valores vitais, de ideias ou ilusões que aprendeu durante o ofício de viver.
Portanto, o que vale é a vida... inclusive para quem chega à conclusão de que não vale a pena viver. Mais razoável seria nos perguntarmos se “a morte tem sentido”, se a morte “vale a pena”, porque dela não sabemos nada, uma vez que todo o nosso saber e tudo o que vale para nós provém da vida! Acredito que toda a lógica digna desse nome parte da vida e se propõe a reforçá-la, a torná-la mais rica.
Eu me atreveria a ir mais longe, agora que ninguém nos está ouvindo: acho que só é bom aquele que sente uma antipatia ativa pela morte. Atenção! Eu disse antipatia, não medo; no medo sempre há um início de respeito e bastante submissão. Não creio que a morte mereça tanto...
Mas há vida depois da morte? Desconfio de tudo que se deve obter graças à morte, aceitando-a, utilizando-a, afagando-lhe as mãos, seja a glória neste mundo ou a vida eterna em algum outro. O que me interessa não é se há vida depois da morte, mas que haja vida antes.
E que essa seja boa, não simples sobrevivência ou medo constante de morrer.
SAVATER. Fernando. “Ética para meu filho”. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p.173, 174.
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